Politica

Quem é Tacla Duran, advogado que acusa Lava Jato de cobrar “taxa de proteção” de alvos da operação

Ex-integrantes da força-tarefa sempre rechaçaram as acusações de Tacla Duran, a quem tratam como criminoso foragido da Justiça brasileira

O advogado Rodrigo Tacla Duran, 49, que prestava serviços para a Odebrecht e se tornou uma espécie de contradelator da Operação da Lava Jato, afirmou que advogados próximos a procuradores de Curitiba que integravam a extinta força-tarefa cobravam uma espécie de “taxa de proteção” de eventuais alvos da operação para que eles não fossem denunciados.

A denúncia foi feita à Justiça Federal de Curitiba, em depoimento prestado na última terça-feira (9).

O advogado ganhou notoriedade como desafeto do ex-juiz e agora senador Sergio Moro (União-PR), que conduziu a Lava Jato entre 2014 e 2018, ano em que deixou a toga e aceitou o convite do então presidente eleito Jair Bolsonaro (PL) para assumir o Ministério da Justiça.

No auge da Lava Jato, Moro decretou a prisão de Tacla Duran, acusado pela força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) de usar empresas no Brasil e no exterior para lavar propinas supostamente pagas pela UTC Engenharia e pela Odebrecht e agentes públicos em troca de contratos com a Petrobras.

Em reação, o advogado acusou publicamente Moro por suposta negociação de vantagens em delações premiadas no âmbito da operação.

Na semana passada, Eduardo Appio, novo juiz da Lava Jato, derrubou o mandado de prisão preventiva contra Tacla Duran que havia sido decretado pelo hoje senador Moro (União Brasil-PR), em 2016.

O advogado vive na Espanha e chegou a ser colocado na lista de foragidos da Interpol, mas nunca foi preso.

O argumento de Appio para derrubar o decreto de prisão foi o de que Tacla Duran tem direito a aguardar a conclusão do processo em liberdade.

Segundo Tacla Duran, um executivo chinês relatou a ele ter entregue US$ 750 mil aos advogados Antonio Figueiredo Basto e Carlos Zucolotto, à época sócio do escritório da esposa de Moro, a deputada federal Rosângela Moro (União-SP).

Tacla Duran detalhou o que teria sido a operação. O dinheiro teria sido levantado por meio de offshore, transferido por meio de um banco suíço e, em seguida, distribuído em espécie.

Ele diz ainda que a tal “taxa de proteção” tinha como destinatário final o ex-procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, que era uma espécie de decano dentro da Lava Jato.

Procurado pela CNN, Carlos Fernando respondeu: “Mentira, como tudo que ele tem dito, sem qualquer prova e mudando as histórias e nomes, nos últimos 5 anos.”

Os ex-integrantes da força-tarefa sempre rechaçaram as acusações de Tacla Duran, a quem tratam como criminoso foragido da Justiça brasileira. Ele é advogado, mas para os investigadores atuava como doleiro, distribuindo propina.

Tacla Duran afirmou ainda em juízo que, para tirar mais de 70 delações do papel, a Odebrecht teria fabricado provas, inclusive manipulando sistemas internos que tratavam de contas que abasteceriam políticos.

Ele diz que o acesso a esses dados era ultrarrestrito, e que, de repente, todos os delatores tinham um pedaço dos dados em mãos.

Tacla Duran afirma que é possível provar que o sistema foi manipulado para incriminar alvos e atender as exigências da força-tarefa.

“É quase infantil achar que a empresa saía diariamente dando extratos de contas reservadas que nem eu conhecia, nem o Marcelo (Odebrecht) conhecia… Isso não existia. Isso existiu no mundo da delação de Curitiba…Exigido. Porque se a pessoa não levasse isso em mãos, não era aceito (o acordo de delação)”, disse.

Duran foi ouvido como testemunha num caso que envolve um delator da Odebrecht no Equador. Ele não menciona textualmente Rosângela Moro, nem os nomes de Moro e Deltan Dallagnol. Isso porque as suspeitas lançadas contra esses integrantes da Lava Jato está amarrada a uma apuração no Supremo Tribunal Federal (STF).

O novo juiz da Lava Jato, Eduardo Appio, diz, durante a audiência, por mais de uma vez, que Tacla Duran deve ser ouvido novamente.

A CNN tenta contato com as defesas dos citados nas acusações, mas ainda não houve retorno.

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo