Segundo Paulo Twiaschor, apesar de vivermos em uma era de rápidas transformações tecnológicas, ambientais e sociais, os currículos universitários e técnicos permanecem, em muitos casos, ancorados em paradigmas educacionais do século passado. A estrutura ainda rígida, excessivamente centrada em conteúdos teóricos desconectados da prática e das necessidades emergentes do mercado, não prepara os estudantes para os desafios contemporâneos.
Competências digitais, pensamento crítico, resolução de problemas complexos e inteligência emocional são frequentemente negligenciadas ou abordadas superficialmente. A defasagem se evidencia quando vemos graduados que, mesmo com diplomas em mãos, enfrentam dificuldades para se adaptar às exigências do mercado de trabalho dinâmico, globalizado e digitalmente interconectado.
Como a revolução digital exige uma educação mais ágil e adaptável?
A digitalização de processos em praticamente todos os setores, impõe uma nova lógica para o desenvolvimento de habilidades, menciona Paulo Twiaschor. Ferramentas como inteligência artificial, análise de dados, automação, programação e plataformas digitais de colaboração já fazem parte do cotidiano de empresas e governos. No entanto, essas tecnologias mal são abordadas na maioria dos cursos técnicos e superiores.
Além disso, a velocidade com que o conhecimento digital se atualiza exige currículos flexíveis e modularizados, com foco em aprendizagem contínua e baseada em projetos reais. O modelo tradicional, com disciplinas estanques e pouco espaço para a experimentação, simplesmente não dá conta dessa demanda. A educação precisa ser tão dinâmica quanto o mercado em que seus egressos irão atuar.
O que falta para a formação socioemocional ser realmente valorizada?
Outro pilar fundamental negligenciado nos currículos é o desenvolvimento socioemocional. Habilidades como empatia, comunicação, liderança, resiliência e ética são fundamentais para a atuação profissional em ambientes cada vez mais colaborativos e multiculturais. Apesar de amplamente reconhecidas por pesquisas e empregadores como essenciais, essas competências ainda são vistas como “intangíveis” ou difíceis de mensurar, e, por isso, recebem pouca atenção nos programas formais de ensino.

Para Paulo Twiaschor, incorporar o desenvolvimento socioemocional à formação requer uma mudança de mentalidade: mais do que conteúdos, trata-se de criar experiências, metodologias ativas, dinâmicas de grupo e avaliações formativas que promovam o autoconhecimento e a inteligência interpessoal.
Quais modelos de ensino já apontam para o futuro?
Diversas iniciativas ao redor do mundo mostram caminhos promissores, pontua Paulo Twiaschor. Universidades como o MIT e a Minerva Schools têm adotado modelos baseados em competências, aprendizagem ativa e metodologias híbridas. No Brasil, programas como o do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), que incorporam laboratórios de inovação e currículos flexíveis, começam a ganhar destaque.
Outro exemplo são os bootcamps e cursos técnicos de curta duração que, com foco prático e intenso, formam profissionais prontos para atuar em áreas como ciência de dados, UX design e cibersegurança. Esses modelos compartilham um princípio comum: o aluno no centro do processo de aprendizagem, com autonomia, protagonismo e contato direto com problemas reais.
Conclui-se assim que reformular os currículos universitários e técnicos para atender às demandas do século XXI não é apenas uma tendência: é uma urgência. Para Paulo Twiaschor, o primeiro passo é reconhecer que o modelo atual está obsoleto diante das transformações digitais, ambientais e humanas que moldam nosso presente e futuro.
Autor: Dan Richter